Extensão Para Quem?

novembro 9, 2009 às 2:46 am | Publicado em Artigos | 2 Comentários
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Por Gilberto Gomes (Membro do FEX FD UnB e Aluno de Graduação em Direito do 3º Semestre)

Escrevo em resposta a uma afirmação que muito freqüentemente se faz sobre a extensão, um dos “pés constitucionais”, sempre bom lembrar, do tripé no qual se baseia a universidade brasileira. Contextualizarei essa afirmação em uma situação hipotética. Essa situação consiste numa reunião de um conselho de uma Faculdade de Direito. Nessa reunião, um professor, que há muito leciona em tal faculdade, e que para os fins desse texto chamaremos de “catedráulico fundamental”, ao saber da movimentação dos alunos dessa faculdade em melhor articular a extensão, se assusta ao saber o conceito utilizado para extensão. O catedráulico fundamental, hipotético e usado aqui para fechar logicamente o cenário, afirma, categoricamente: “mas extensão é darmos aulas para fora da universidade”.
 
É uma idéia bastante literal do que seja extensão. É a extensão como “ato ou efeito de estender; ampliação, aumento”. Porém, uma das propostas de discussão inseridas neste Fórum é a de que façamos uma extensão do termo, no sentido de “aplicação extensiva do sentido de uma palavra, locução ou frase”.
 
Seria a extensão apenas a divulgação do saber acadêmico para além muros da universidade? Ou, ainda pior, seria a extensão uma ferramenta de imposição desse saber para a sociedade? Respondo: não podemos considerar a extensão simplesmente a reprodução do saber feito na academia, em um monte Olimpo onde catedráulico fundamental e seus colegas discutem sobre as coisas “altas”. A extensão que propomos tem uma extensão (“dimensão, tamanho”) muito maior.
 
Uma das formas pelas quais podemos medir essa extensão é tentando responder à pergunta “extensão pra quem?”. Catedráulico fundamental logo afirmaria: “para a sociedade, temos que deixá-la a par do conhecimento que produzimos para salvá-la de si mesma!”. Outros poderiam também responder: “Para os extensionistas, claro, é uma das formas do estudante conseguir horas complementares, não?”.
 
Esses conceitos ainda não chegam à extensão (“importância, alcance”) do que pode vir a ser a extensão universitária.
 
Temos que buscar enxergar a extensão não apenas como um prolongamento da universidade sobre a sociedade, nem apenas como apenas mais uma atividade para o universitário. A extensão pode, e melhor que seja, vista como feita tanto para a sociedade quanto para o extensionista.
 
Vejamos a extensão como o lugar de encontro de experiências! Como a oportunidade da experiência acadêmica se misturar à experiência cotidiana. Como uma forma única de se verificar se os conceitos rígidos da academia se aplicam na realidade; e de buscar na realidade realidades que possam ser traduzidas em novos conceitos.
 
A extensão não é imposição. É diálogo. Um diálogo de saberes, onde popular e acadêmico se unem. Onde as certezas universitárias são questionadas. Onde o saber popular encontra voz para debater. Um local de percepção da diversidade.

 
Não, senhor professor doutor catedráulico fundamental, não fazemos extensão para salvar crianças em Itapuã, para incutir conhecimento em mulheres na Ceilândia ou para aplicar o Direito em situações de violência doméstica. Não fazemos extensão para ganhar horas complementares.
 
Fazemos extensão por entender que o diálogo de saberes que nessas atividades ocorre é fundamental para melhor pensar a realidade, para melhor pensar alternativas à realidade. Fazemos extensão por ver nela passo fundamental para a extensão (“desenvolvimento, alargamento”) da experiência universitária.

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