Extensão Para Quê?

novembro 4, 2009 às 8:32 pm | Publicado em Artigos | 1 Comentário
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Por Renata Cristina de F. G. Costa (Presidente do Fórum de Extensão da Faculdade de Direito – UnB e Aluna do 5º Semestre do curso de Direito)

Pensei inicialmente em inaugurar nosso blog com um artigo longo e tedioso sobre a Extensão em suas concepções acadêmicas segundo os maiores doutrinadores da questão, sobre sua base constitucional prevista no nosso famoso art. 207 (aquele tão falado tripé), sobre o histórico de criação deste grupo que pretende entender e trabalhar tudo e qualquer coisa relacionada a uma simples palavra: Extensão…

Porém, não faria nenhum sentido com o que a Extensão e a Universidade (como nós a entendemos) se propõem a pensar e o que o Fórum de Extensão da Faculdade de Direito (Fex) se compromete a fazer. Portanto, me pareceu mais oportuno que comentasse algo relativo ao que vivenciamos hoje na Universidade e que escrevesse sobre o tema que sugere o título já que é exatamente essa a discussão que deu início ao nosso grupo, e imagino que também seja a “pulga atrás da orelha” de qualquer um que investe seu tempo lendo aqui nossas palavras.

Dessa forma, neste texto busco transformar letras frias e desconexas em palavras expressivas e provocadoras que de alguma maneira mágica transmitam as experiências e vivências que justificam a Extensão para além do que dizem os livros e Constituições. Ou seja, expressar em palavras o que não é facilmente dizível: tentar expor um pouco do que realmente motivou cada um de nós estudantes que se envolveram na criação do Fex a buscar a Extensão Universitária da maneira que a conhecemos na Faculdade de Direito da UnB. E ainda, se não for pedir demais, tentar convencer algumas almas a se juntar a nós, pois de nada adianta a música se não há ninguém que se comprometa a tocá-la.

Acredito que seja necessário esclarecer também que me pareceu bastante contraditório (justo em um espaço que rompe com o modelo tradicional ultrapassado de Universidade que todos nós conhecemos) manter o formalismo que a Academia nos exige. Nesse sentido, não estranhem a linguagem, tomo liberdade (após três parágrafos já escritos) de falar em primeira pessoa e de me desprender da tão louvável vontade e necessidade que temos de citar grandes nomes para fundamentar nossos argumentos. Algumas vezes enriquece, outras, escamoteia. Por isso a utilizarei com cuidado.

Faço todas essas considerações por um motivo: nossas escolhas devem ser coerentes com nossas atitudes e ideologias. Dessa maneira, as diversas razões que justificam as escolhas já postas sobre a mesa são as bases que nos guiarão ao ponto chave desse texto, qual seja, tentar responder à pergunta “Extensão pra quê?”.

Diante das escolhas feitas por mim nesse texto, em primeiro lugar, é preciso ressaltar que, na Extensão não há por que falar em terceira pessoa, pois não há razões para fingir ser neutra, pelo contrário, é necessário reconhecer e assumir suas decisões. A Extensão é política. Fato. Assim como a Ciência, o Direito também o são. A diferença está na transparência de suas posturas.

Quando se fala sobre ser político, neste contexto da Extensão Universitária, não quer dizer necessariamente ser partidário. Disse “não necessariamente”, pois tanto pode ser como pode não ser. O importante é compreender que, acima de tudo, na Extensão, ser político significa ter liberdade de escolher e assumir a posição que se quer diante do mundo, opção esta que pode ser resumida (como gostamos de fazer em nossa sociedade ocidental) em uma dicotomia: agir ou não agir.

A escolha de agir, ou seja, de adentrar na realidade social que cerca os muros universitários, poderosos isolantes que criam uma artificialidade de conforto sem fim aos privilegiados estudantes, e conhecê-la, e com ela discutir os problemas sociais que tanto afligem nosso país é uma atitude que tem conseqüências. Claro. Assim como tem conseqüências, para sua própria formação universitária ou ainda para a complexa sociedade que nos cerca e que anseia por soluções, a decisão de se limitar a conhecer apenas o que lhe é oferecido e decidir por não responder a esses anseios. (Sem julgamento de mérito ou exposição de mais opiniões, fico satisfeita em provocar a reflexão sobre tais questões e iniciar uma chamada pessoal para que posturas sejam assumidas diante de todos e todas que esperam algo da Universidade).

Dessa forma, assumir que “as coisas estão ótimas do jeito que estão” é uma postura. Temos que reconhecer que é exatamente a postura que condiz com aquele que ocupa justamente essa condição “ótima” da qual fala, que geralmente compõe uma pequena parcela da população, em outras palavras, uma elite. Se assim o assumir deve levar em conta o que já foi dito anteriormente, que seja coerente em todos os aspectos de sua existência: posição política, base ideológica e atitudes. Seja reacionário, seja revolucionário, deve ser coerente.

Impossível não fazer referência a Darcy quando se fala sobre tudo isso, adentrando um pouco no tema da Universidade e sua função social, sobre o “agir” ou “não agir”, sobre o conformismo ou a inquietude. Devemos nós universitários pensar o Brasil – problema e construir soluções com a sociedade que nos permitam compreender melhor esse enorme país ainda tão desigual e pensar formas de resolução dos intensos conflitos que o Brasil ainda vive?

A Extensão Universitária, da maneira que a conhecemos, entende que sim. Para os extensionistas, pessoas inconformadas por natureza, não faz sentido passar quatro, cinco, seis (!) anos de curso, trancafiados em uma sala de aula para absorver como uma esponja passiva a louvável sabedoria de nossos gloriosos professores, fontes eternas e infalíveis de conhecimento. É preciso ter algo mais que isso, até mesmo por uma questão verdadeiramente de sobrevivência na árdua caminhada da Academia. Tentaram cortar nossa utopia, no sentido de esperança, de todas as formas, mas ainda não conseguiram.

É nesse sentido que a Extensão nos leva a negar que “as coisas estão ótimas do jeito que estão”, há sempre o que melhorar. A Extensão se inclina em direção a essa maneira de se ver o mundo para além da Universidade, incentivando nos estudantes que tenham uma atuação direta no sentido de transformação social do meio em que vivem, rejeitando qualquer tipo de acomodação e dormência que constantemente nos sufoca dentro das salas de aula desde o primário até a Universidade. Até a Universidade já é para lá do que consideramos como bastante.

A partir do exposto é fácil concluir que, em segundo lugar, na Extensão não há porque citar, a todo momento, autoridades que nos dêem fundamentação, pois se trata de um espaço de valorização de experiências e saberes, de troca e construção, e, acima de tudo, de autonomia.

Não há espaço na Universidade em que mais se crie, mais se conheça, mais se acredite, mais se viva e se experimente. A partir da Extensão se aplicam os conteúdos do Ensino e se concretizam os questionamentos da Pesquisa. Puxando a sardinha para nosso lado, não consigo pensar em nada mais completo. Claro que também não defendemos o anarquismo, pois seria revolução demais para nossa Faculdade de Direito, pedimos apenas que seja cumprida a Constituição Federal.

Portanto, é possível compreender que a “indisciplina” (como rompimento do ensino tradicional) da qual fala Leila Chalub, a “utopia” (como necessidade existencial fundamental do ser humano) da qual fala Paulo Freire e ainda a inquietude que cada um de nós alimenta são os principais motores da Extensão Universitária, sendo eles mesmos os responsáveis pela formação de cidadãos e profissionais críticos, autônomos e conscientes.

Longe de querer tirar a importância de todo nosso legado e forma de ensino que também já nos fez crescer e muito, tenho apenas a intenção de mostrar as oportunidades que a Universidade nos oferece para que a vivenciemos de maneira plena. Não pretendo converter ninguém a nenhuma religião. Apenas sugiro que experimentem. Experimentem de tudo para que não se arrependam de não haver tentado.

Sendo bastante sincera… Depois de todas as palavras aqui escritas, a pergunta “Extensão pra quê?” parece um tanto quanto boba e talvez até desnecessária. Em se tratando de algo que consiste basicamente em se desprender e romper com estruturas tradicionais de ensino, algo em que o experimentar é fator determinante, não faz sentido dizer aqui mais nada além dessa última frase: apenas vivenciando é que é possível saber.

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